Tudo começou para mim no dia 25 de Junho de 1997. A Dra do Hospital de Sta Maria em Lisboa deu-me a notícia de que a análise de Paramiloidose que tinha feito era positiva. Quando sai do hospital não via nada nem ninguém, estava em estado de choque, lembro-me de entrar no carro e sem saber como ir parar á torre de Belém e a beira do rio Tejo começar então a pensar o que seria da minha vida. Eu tinha 25 anos e sempre soube que este dia havia de chegar mas sinceramente tinha a secreta esperança de que não teria a doença do meu Pai. Não conseguia deixar de pensar que era uma injustica e que tudo isto não estava realmente a acontecer comigo, como se de um pesadelo se tratasse e o mundo desabasse sobre mim. Mas era verdade, era real e assim para mim os dados estavam lançados! Eu tinha 12 anos quando decidi que só faria a análise por volta dos 25 anos, pois achava que não valia a pena correr o risco duma análise positiva, se os primeiros sintomas só se revelariam nesta altura. Alguns dos meus amigos não compreendiam como é que eu conseguia viver assim, sem saber. Eu sempre acreditei que há um tempo para saber e o presente para viver, foi assim que cresci e ainda bem que o fiz. Contudo sempre fiz questão ao logo destes anos de contar o risco que corria as pessoas mais íntimas, aos meus amigos e finalmente a minha namorada para não lhe dar um "presente envenenado". Sempre falamos na possibilidade de eu ter a doença e o que faríamos mas sempre com a secreta esperança de tudo correr pelo melhor. Tinha chegado o dia e tinha que lhe contar que os nossos piores receios tinham-se tornado realidade. Foi bastante difícil contar á minha namorada mas o que me custou mesmo foi contar á minha Mãe. Eu não lhe tinha dito que tinha feito a análise porque tinha a secreta esperança de lhe poder dar uma boa notícia surpresa mas em vez disso tive que lhe contar que não tinha tido sorte. Pode-se imaginar o que deve ser para uma Mãe ter a perspectiva de voltar a ver toda aquela degradação humana agora no seu único filho. Mas a doença que levou o meu Pai a morte e que agora me atingiu também não vai atormentar nenhum dos meus filhos, há muitos anos que tomei esta decisão e estou ciente que é o mínimo que posso fazer. No entanto os tempos mudaram e apesar de não existir uma cura, há um tratamento, o transplante hepático que para definitivamente a progressão dos sintomas. Mas para mim e apesar de toda a minha angústia tem que se reagir porque afinal de contas não estava condenado como o meu Pai e tinha uma esperança.
"Vamos lutar, fazer isto e aquilo, quanto mais depressa melhor. Se for preciso faz-se no estrangeiro. Todos estão dispostos a ajudar tenho tantos amigos e tanta sorte. Vai tudo correr bem..."